sexta-feira, 25 de março de 2016

Pensando em minha amiga Marcela Isis....
Por modo de que eu sempre me pego pensando nela. Por modo dela ser essa pessoa que eu admiro e por quem tenho um apreço imenso.



Soneto

Qualquer coisa que tu digas tem aval
Se mal, que tal?  digo quase sempre sim
Ou pior, digo: não sei, peço  tua mão
Se iluda, escuta,  melhor assim

Mas é átimo golpear o melhor
Sem dó, sem dor, a golpes de não-não-não
Cansei da rotina, de fingir
E rir, mentir, na tua explicação

Eu sempre finjo que não sei
Pra não morrer assunto
Pra me manter sempre junto

Agora quero te ver dançar
Brilhar de próprio si
Quero ver-te fazer-me rir, por ti

Para que eu possa subverter a lógica
de um soneto. Para que possa haver um som
insano, nessas palavras. O que quero dizer é:
Por voçê eu quero chutar o pau da barraca
E arrancar do meu peito essa sensação de já vi antes
Eu vi, eu cri, eu expresso
Mas prefiro não falar agora.

(Gutch Costa)

domingo, 20 de março de 2016

Tem coisas na vida que você sabe que não deve fazer, mas faz...

Em suma, antes de qualquer coisa, o que eu quero, mas ainda não tive tempo de fazer, é criar um espaço para divulgação artística e cultural. Seja qual for. Por enquanto, vai um poeminha que fiz tão rápido que nem deu tempo de saber se está razoável. Sem dedicatória, mas tendo. Que fique subentendido.


Angel


Não é por ter esquecido
Que a plena noção de sentido
Perde a devida frequência

Sinto veementemente, que estou num momento indevido
E devo isso, traçando em miúdos
À um leve momento onde me deixei levar

Ao fundo escuto Angel
E são tantas as canções com esse nome
Que deixo ao imaginar de quem quiser adivinhar
Essa lépida trilha

Quero trilhar em passos lentos
Seguindo não em frente, mas ao largo
E para trás, recuperando em memórias
Compartilhadas ao único tangível, Miro
E à tantas que perpassam, Madalenas

Eu lembro de ti, com um Q de mistério
Algo que meramente ao estar, se firmava
E se instalava em meu pensar
E eu queria, pois eu estava ali
Parado, centrado, em silêncio, mas cantando
Admirando, sem saber

Ao teu intento, re-invento
Esse momento é muito mais que recordar
É sentir na pele, e com direito a fundo musical
Que qualquer momento à sós pode ser uma cena de cinema
Se houver, na sua frente, o real ausente
Mas presente...
Eu falo, às vezes eu desdigo, mas reafirmo, e me calo
Fica no ar
Uma certeza

Pra que falar tanto,
Se nós falta apenas um gesto?

(Gutch Costa)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Considerações imperfeitas sobre esse indecifrável sentimento chamado amor


 

“Eu só peço a Deus um pouco de malandragem, pois sou criança e não conheço a verdade; eu sou  poeta e não aprendi a amar”

(Cazuza-Frejat)

 

Amar é colocar nossa felicidade na felicidade do outro. Com essa frase, Gottfried Leibnitz tentou definir o que é amar. Colocando essa frase num estado de pessoalidade, pode ser uma definição correta. “Para mim, amar é colocar minha felicidade...”   Se a pessoa a dizer isso se basear na abnegação e numa grandeza de espírito semi-irracional, ela estará certa. E será feliz assim. Mas se analisarmos o verbo amar de maneira geral, essa afirmação de Leibnitz pode parecer um tanto rasa.

 

Vale dizer que é correto analisar o verbo amar, e não o substantivo amor.  A predominância lingüística é do verbo, pois amor é algo que se sente. E sendo verbo, nós sentimos amor, nós desejamos, buscamos, nós queremos, enlouquecidamente, às vezes, esse sentir incerto e indecifrável.  Não cabe, entretanto definir o que é amar, e sim entender o que sente uma pessoa que está amando. Quem ama, se não for Narciso, ama alguém ou algo. Então, amar não diz respeito somente a nós mesmos, como a dor, a alegria, a depressão. Amar pertence à mesma categoria de odiar, invejar, admirar, e por isso deve ser analisado, como verbo, de modo a abranger o que este sentimento provoca, socialmente na pessoa que ama.

 

Quem passa a amar, se transforma tanto no psicológico como no social. Quem ama vê as coisas de outro modo, torna-se romântico, torna-se bobo, as vezes. Quando se modifica a visão de realidade, a transformação deixa de ser individual e passa a ser também sociológica, pois não sendo autistas, nos relacionamos com pessoas, com a realidade.

 

Quem ama, torna-se por vezes, egocêntrico. Mas como pode ser egocêntrico alguém que ama? Amar não é, de jeito algum, um verbo egoísta. Quem ama, ama alguém ou algo, e egoísta é quem ama a si próprio e às suas idéias, somente. E não é esse o objeto de discussão. Está se analisando quem ama alguém, e como se transforma quem ama alguém.

 

Ninguém sabe amar, pois ninguém sabe o que é amar. O amor só existe, se for perfeito, mas a perfeição só existe com falhas. Parece pertinente analisar uma situação hipotética, pra entendermos o ser humano que ama, e o que lhe é exterior quando se vê com olhos de quem ama.

 

O que seria a felicidade para quem ama?  Não seria a felicidade do outro, por certo. Seria a realização do seu amor, e isso se dá quando se alcança a completude.

Essa situação precisa ser analisada profundamente. O amor, por não ser egoísta, deve ser dividido com quem se ama. Devemos então dividir a completude pela satisfação para alcançarmos a felicidade.

 

 

completude

__________    =   felicidade

 

satisfação

 

 

Deve-se criar dois personagens para facilitar o raciocínio.

 

X e Y

 

X =  CARLILDO

 

Y =  FLORISVALDA

 

Existe um amor forte de Carlildo por Florisvalda, mas Florisvalda nao corresponde.

 

Tudo o que Carlildo espera é sentir completude e satisfação. Nesse caso a satisfação se chama Florisvalda, e a completude se chama namoro. O namoro, dividido pela satisfação, pois ter-se-ia que dividir a satisfação por dois, significaria a felicidade para Carlildo.

 

Portanto se estabelecermos que: Completude= C e satisfação= S, teremos

C/S = F(felicidade)

E temos também: X+Y = R (realização do amor platônico)

 

Se estabelecermos que a realização de um amor platônico significa, pelos menos momentaneamente, a felicidade, chegamos a tal equação:

 

C/S = X+Y

 

Resultado: dividindo-se a completude pela satisfação, a dois, quando se está se relacionando, se alcança o que se chama felicidade. Mas onde a felicidade estaria incluída? Na categoria dos sentimentos egoístas ou dos sentimentos sociais?

Felicidade e alegria, são sentimentos sociais, embora não dependam de outras pessoas para existir, são sentimentos que, ao existirem, contagiam e que se fazem notar de tal forma, que é possível compartilha-los.

 

Mas o que determina o resultado R? Como se comporta alguém após realizar o amor platônico? Ao tornar real o que é platônico, perde-se o sonho, a fantasia. O que aconteceria ao subtrair-se do amor a fantasia? Não parece sequer imaginável que o amor possa existir sem fantasia, sem romantismo, mas nem tudo possível é imaginável. É comum que alguém realizado, após o momento inicial de êxtase, se torne relaxado. É possível que com o amor ocorra a mesma coisa. Ao não se ter pelo que lutar, não se luta mais. Não se sonha e se acostuma com o fato. Fatos ocorrem e ninguém pensa que fatos precisam ser mantidos ou até mesmo direcionados.

São raras as pessoas que entendem que é preciso alimentar o amor, platônico ou não.

 

Porém, ao se considerar as equações, chega-se à conclusão que F = R

A realização do amor platônico se dá com a felicidade, que se dá com a consumação do que se deseja.  Torna-se obvio que a completude se dá ao se multiplicar a felicidade pela satisfação.

 

É necessário analisar a situação utilizando os personagens criados.

 

Carlildo lutou para conquistar Florisvalda, e de alguma forma ele conseguiu. Florisvalda não ama Carlildo, mas aceitou namorar ele, porque se encantou com seu jeito e com a sinceridade de suas declarações. Com a equação resolvida, os dois passam a viver uma situação real. Florisvalda descobre que Carlildo a faz sentir completa e o tempo lhe traz satisfação. Ou seja, a felicidade dos dois gera a completude.

Mas Carlildo não sabe amar, e sente falta do tempo em que sonhava. O amor acaba virando rotina, fica chato. Cria-se uma nova situação: Florisvalda sente amor e Carlildo acha que nao sente mais. Ele ainda a ama, mas não sabe o que é amar.

 

Deixe-se os personagens de lado e analise-se essa situação.

 

Será que amor acaba? Será mesmo que tudo que se diz amor, é amor? O amor não é cego, como dizem. a paixão, sim, é cega e não permite momentos entediados ou rotina.  Mas o amor é humano demais para viver em chamas o tempo todo. O amor é ser, e não estar, e quem ama enxerga muito bem os defeitos de quem ama. Aceita-os ou tenta conserta-los, mas nunca condiciona o fato de manter o amor a esses defeitos. Se tentar não conseguirá.

O amor nao acaba. Se acabar, não era amor.

 

“E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?”

(Renato Russo)

 

Existe, atualmente, uma modalidade de relacionamento muito interessante, chamada " amizade colorida".  Interessante e honesta, pois nao se condena a cobranças, desgastes e rotina. Não é preciso amar para se relacionar com alguém. Se fosse, seria quase impossível descobrir o amor, pois só o tempo o descobre. Na música Língua, uma ode à língua portuguesa composta por Caetano Veloso, diz-se: "Eu sei que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade, e quem há de negar que esta lhe é superior?"

 

Surge uma pergunta: para que tentar transformar amizade em amor, se são coisas diferentes, e se parece realmente impossível negar que a amizade é superior ao amor? Amizade e amor podem existir em concomitância, mas sozinhos, parece óbvio que somente a amizade sobreviveria. Dá pra imaginar um amor sem amizade? O termo "amizade colorida", nao se propôe a unir amizade e amor, mas é fascinante  porque também não se propôe a exigir amor para sentir-se bem com outra pessoa, e sentir prazer com ela. E melhor ainda, a amizade continua.

 

Imagine-se mais dois personagens:  Lucas Moura e Roberta Margarida, amigos de infância e hoje colegas de trabalho. Quando crianças, existia uma coisa legal, chamada inocência, mas a evolução natural do ser humano exige a extinção dessa "coisa". O fato é que tanto Roberta como Lucas cresceram, simpaticos, bonitos, inteligentes. E  ambos passaram a olhar o outro sem inocência, e passaram a se querer. Mas não se amam, e são amigos, e

existe o risco de estragar a amizade, e existe isso, aquilo, mil coisas axiomáticas que impedem a simples realização do desejo mútuo. A situação seria resolvida se Lucas e Roberta recorressem à  "amizade colorida" . Manter-se-ia a amizade, satisfaria-se o tesão, não haveria compromisso, e quem sabe eles passariam a se amar futuramente.

 

Entretanto, amizade  colorida não é sinônimo de ficar, e se eventualmente for,  é sinônimo  imperfeito, pois amizade não  é requisito para ficar com alguém. Faz-se necessário explicar o que é ficar, mas ficar é tão difícil de definir que parece oportuno recorrer a um dicionário.

Tirado do Aurélio:

16.       Bras. Pop. Namorar sem compromisso, durante um curto espaço de tempo (às vezes, por uma noite)

 

Não parece correto usar  o termo namorar, mas tirando isso, a definição  parece perfeita. E são  essas as modalidades  de relacionamento  mais utilizadas nos dias de hoje:  Ficar e amizade colorida. O amor é tão raro, tão complicado por ser  tão simples. Para que exigir de um relacionamento amor?

 

E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?

Será que precisa dizer eu te amo?

 

"Como os homens possuem o dom de aperfeiçoar tudo o que a natureza lhes

deu, também aperfeiçoaram o amor. O asseio, os cuidados com o nosso

corpo, tornando a pele mais delicada, aumentam o prazer do tato, e

a vigilância da saúde torna os órgãos da voluptuosidade mais sensíveis

ainda.

Todo os outros sentimentos penetram a seguir no de amor, tal como os

metais se amalgamam com o ouro: a amizade, a estima vêm em seu auxílio;

os talentos do corpo e do espírito forjam novas e ternas cadeias."

(Voltaire)

 

Fica cada vez mais evidente que o amor é perfeito. É um sentimento que depende de outros sentimentos, que gera outros sentimentos. O amor depende de uma única regra para existir: ele não acaba. Amor é eterno, como o de Dante por Beatriz, dos 9 anos de idade até o fim da vida, sem nunca terem consumado e tendo ela morrido aos 24 anos.

 

Muito se confunde amor e paixão, ou paixão e desejo. Espertos são os que dispensam comparações, que apenas curtem o que desejam, sem procurar amor onde não tem. O amor é raro e lindo, mas esperar por ele, e querer que ele exista a qualquer custo não é uma boa opção. Feliz é Florisvalda, que não esperou por ele, mas o recebeu de presente, não o quis, mas teve que aceitá-lo. Tristes são Lucas Moura e Roberta Margarida, que colocaram barreiras na realização dos seus desejos, confundindo amor, amizade e tesão.

 

Não é possível definir amor. Pode-se analisá-lo, discorrer sobre ele, mas nunca defini-lo, nunca enclausurá-lo em quatro paredes verbais e limitá-lo.

Amar é simplesmente amar.

 

Gutch Costa*

* Gutch é licenciado em Ciências Sociais, mas escreveu este texto muito, mas muito tempo antes de pensar em ser alguma coisa.